terça-feira, 13 de novembro de 2007

"Rindo à Toa"

Era uma caminhada silenciosa que Ikki e Pandora estavam fazendo rumo ao Muro das Lamentações. Silenciosa demais na opinião de Ikki. Para quebrar o silêncio, ele perguntou à Pandora sobre toda a vida dela e a resposta veio entre lágrimas misturadas com recordações tristes. Ikki suspirou e disse:

- Tente reclamar menos.

- Como eu posso reclamar menos se a minha vida foi uma merda do meio até o fim.

- Sua vida ainda não acabou.

- Quando Thânatos e Hypnos me encontraram pela primeira vez, foi como ter o inferno nas mãos.

- E você o tem. Literalmente.

- Pensa que eu não sei?!

Quando viu que uma lágrima escorreu pelo rosto dela, Ikki ficou de frente a ela e disse:

- Pensa que eu também não tive uma péssima vida?

- Não duvido de suas palavras.

- Vou te contar a verdade, minha primeira namorada foi assassinada pelo pai adotivo. Sofri muito durante aquele tempo e transformei a minha tristeza em fúria. Destruí todos os meus sentimentos bons e isso só me fez mal apesar de ser fruto de algo que me fez tão bem: a amizade de Esmeralda.

- Amizade?! Pelo que você acabou de dizer ela parecia ser a sua namorada.

- Não deu tempo.

- Sinto muito.

- Não precisa sentir. Aprendi a transformar as minhas lembranças ruins em ensinamentos para minha vida como cavaleiro de Atena.

- Quais?

- Passei tantas vezes pelo Inferno que não havia outra forma de encarar.

- Diga-me. Estou com uma sensação estranha sobre isso...

- Limpe os ouvidos antes de escutar.

Ikki pegou-a para dançar e ela perguntou:

- O que pensa que está fazendo?!

- Confie em mim.

Pandora sorriu e ele começou a cantar enquanto olhava-a profundamente, decifrando e libertando todas as emoções boas que há tanto tempo estavam guardadas...

“Tô numa boa, tô aqui de novo
Daqui não saio, daqui não me movo
Tenho certeza, este é o meu lugar
ah ah

Tô numa boa, tô ficando esperto
Já não pergunto se isso tudo é certo
Uso esse tempo pra recomeçar
ah ah”

Percebendo um meio-sorriso se formando nos lábios tristes de Pandora (talvez o único entre tantos anos), Ikki também sorriu para ela e continuou a cantar...

“Doeu, doeu agora não dói, não dói, não dói
chorei, chorei agora não choro mais
toda mágoa que passei
é motivo pra comemorar
pois se não sofresse assim
não tinha razões pra cantar

há há há há há
mas eu tô rindo à toa
não que a vida seja assim tão boa
mas um sorriso ajuda a melhorar
ah ah

e cantando assim parece que o tempo voa
quanto mais triste mais bonito soa
eu agradeço por poder cantar
lalaia laia laia iô!!!”

Ao fim da música, os dois pararam de dançar e Pandora comentou, enquanto ainda sorria:

- Sabe, estava com a sensação de que iriam me matar em poucos momentos e...

Acho que não preciso dizer que a premonição da doce Pandora estava certa e, pelo menos neste songfic, suas últimas palavras para Ikki foram diferentes:

- Obrigada por tornar agradáveis os meus últimos momentos no Inferno. Sabia que um dia um daqueles gêmeos me matariam dessa forma...

- Sh! Não diga mais nada.

No que ela fechou os olhos, Ikki acariciou o rosto dela e beijou profundamente os lábios gelados daquela que nunca fora beijada antes e disse:

- Durma tranqüila, doce Pandora.

Deixando-a com o terço de Shaka, Ikki seguiu seu caminho, tendo sempre em lembrança o momento inocente em que tirara Pandora para dançar naqueles últimos momentos da vida dela que servirão como a lembrança mais agradável e recente de dois sarcásticos no Inferno.

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